segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um Tigre em minha vida - Tony

Escrito por Xamã

Não existe um título melhor para nomear meu texto, mas antes que comecem a imaginar quem é o meu amigo, vamos a ele:

Trata-se de um Tigre e seu nome verdadeiro não é Tony, ele é um Grande Espírito. Esse é o nome de como as grandes nações indígenas costumam chamar as poderosas entidades animais do mundo espiritual. Também são chamados de Totens ou Animais de Poder e por aí vai, escolha o termo que preferir e sigamos em frente.

Cresci nos anos 80, comia sucrilhos no café da manhã e no lanche à tarde e minha referência de Tigre era o da embalagem do meu cereal, o Tony, desenhado com um lenço vermelho amarrado no pescoço.

Eu e meus irmãos recortávamos as naves, jogos e brincávamos com as demais coisas que vinham na embalagem. Assistíamos os comerciais de TV aonde crianças faziam manobras radicais, jogavam muita bola e demais proezas ao som de uma música que estavam (como na música mesmo dizia):

“Com a força de Sucrilhos Kellogs!” Seguido do famoso jargão: “Desperte o Tigre em você!”

Então o Tigre Tony saltava e apontava o dedo de dentro da TV para eu e meus irmãos e dizia:

“-Em você também!”

Adorávamos aquilo, queríamos comer sucrilhos e detonar por aí, ficarmos fortões e arrebentar nos esportes energizados a base do cereal da embalagem azul.

Puro doping e lavagem cerebral infantil, mas era uma época boa.

Tirando isso, somente os passeios ao zoológico e o tigre da Esso que mudavam um pouco minha perspectiva do que era um tigre, mas todos eram “Tonys”. Os anos se passaram, assisti um pouco mais de Discovery, e com a maturidade pude avaliar melhor o quão magníficos são os tigres, mas não havia nada que me fizesse achar que tivesse alguma ligação com eles, exceto claro, os felinos da minha casa.

Há pouco tempo atrás, eu estava um pouco afastado de uma vida social, então acabava auxiliando muito mais no mundo espiritual, e claro que com isso ganhava uma visão mais ampla do universo como um todo. Mas era fato também que lembrava de muita coisa mesmo acordado das minhas aventuras pelo Mundo Espiritual onde eu trabalhava de forma lúcida e eu acabava tendo a sensação de não dormir nunca, embora meu corpo físico precisase descansar.

Passei a acordar mais cedo, comia algo arrumava minha roupa para o trabalho e depois voltava a dormir. Era rápido e simples, principalmente naquela época. Eu morava em uma kitinete e tudo ficava literalmente à minha vista. Meu segundo sono embora sendo mais curto, me ajudava a descansar, pois não sonhava nem via nada, apenas dormia. Até um dia acordar e pensar que ainda estava dormindo.

Imagine morar em uma kitinete aonde o único cômodo com porta (além da de saída) é a do banheiro e o resto se trata de no máximo 10 m² aonde devem ser alocados cama, guarda roupa , fogão etc. Agora imagine colocar um tigre de tamanho natural dentro deste mesmo cômodo.

Foi dentro de tal ambiente que o vi pela primeira vez. Eu acabara de acordar, cocei os olhos, olhei as horas no celular que estava debaixo do meu travesseiro, sentei-me na cama olhando para o chão procurando meus chinelos.

Nisso senti uma respiração pesada que NÃO ERA A MINHA.

Olhando para o chão, vi um par de (enormes) patas brancas com laranja um pouco mais a minha frente. Na hora eu confundi com algo que talvez tivesse jogado no chão, uma roupa, não sei. Mas quando realmente vi que se tratava de um tigre DE VERDADE, meus olhos que acabavam de começar a funcionar se arregalaram, o coração foi na boca. Quando consegui ter fôlego pra falar simplesmente disse em tom baixo (com medo de gritar e irritá-lo):

“-Ah... meu... Deus!”

“Viado, maricas, fresco, cagão” etc, deve ser algo assim que pode estar passando na sua cabeça se está lendo isto, mas como escrevi no meu último post:

“Todos nós temos medo de morrer, até os médiuns.” E eu duvido que a maioria não reagisse de modo semelhante ao ver 5 metros de gato sentado olhando pra sua cara. Acho até que reagi bem demais. Quando consegui organizar as idéias disse pra mim mesmo:

“Tá, estou sonhando, beleza.”

Então comecei a conversar com o animal, mas ele não respondia, só me olhava, olhava para os lados, como se eu fosse parte da pobre decoração da casa.

“É um Grande Espírito” – pensei, mas ele não dizia nada até que descartei a idéia, visto que um ser do porte de um grande espírito nunca me procuraria em casa, eles jamais iriam se sujeitar a entrar numa casa como a minha, um “apertamento”.

“Ah deve ser um dos filhos da Mulher Gavião, o Logan”, mas os filhotes dela ainda não estavam daquele tamanho. Todos os integrantes da família da Mulher Gavião tinham totens Tigres. Vira e mexe eu era atropelado pelos seus “pequenos mastodontes filhos” que brincavam e rolavam alegremente na neve do Mundo Espiritual. Como não obtive resposta tentei achar alguma explicação plausível:

“-Ele fugiu de algum zoológico ou circo e entrou aqui.”

Sim, ele entrou pela minúscula janela (e a trancou), e fechou a porta (que estava do jeito que deixei antes de dormir), além de não haver zoológico lá aonde eu morava e todo circo que passava por lá dificilmente teria um tigre, o que dizer de um tigre como ele, forte, pelo brilhoso, resumindo:

MAGNÍFICO.

“-Bom” -pensei-“se eu estou acordado preciso me vestir, e tenho que ir trabalhar”.

Levantei devagar, dei um salto entrei no banheiro e fechei a porta.

“-Não cabe um tigre aqui dentro!” – pensei, estando pelo menos lá, fora de perigo, o que era óbvio que não, pois se ele quisesse poderia fazer paçoca da porta, me lanchar e usar as farpas para limpar os dentes, ainda assim só o fato de estar sozinho lá já me dava um alento.

Lavei o rosto, soltei uns palavrões em voz baixa, fiquei me questionando sobre estar ou não acordado, sobre minha sanidade, etc, até que resolvi abrir a porta e ver se ainda estava com “visitas” em casa.

Sim, ele ainda estava lá.

Já mais calmo e conformado olhei pra ele, saí da porta e me sentei de novo na cama:

- Tá, não sei qual é a sua, mas eu acho que estou acordado, isso tá bem real pra mim. Então eu vou ali no meu guarda roupa me vestir porque eu preciso trabalhar. Se você quer ficar aqui beleza, mas eu acho que você deve ter coisa mais útil pra fazer do que ficar no meu cafofo e me ver trocar de roupa.

Levantei, andei devagar e passei do seu lado, então pude ver seu dorso, e cauda, era realmente grande e magnífico.

Me vesti, andei ao seu redor até chegar na porta. Abri a porta devagar, pois para onde me mexesse podia esbarrar nele. Disse-lhe que estava indo trabalhar e que mais tarde voltava.

Ao fechar a porta do lado de fora, escorei minha cabeça na parede:

“-Fudeu, enlouqueci de vez”. - Pensei, e só deixei de pensar nisso quando meu vizinho me viu no corredor e perguntou se estava tudo bem.

Queria ter dito que não, eu não estava nada bem. Que tinha um gatinho laranja de 5 metros de comprimento no meu quarto, mas desconversei dizendo ser apenas dor de cabeça. Andei pelo corredor, respirei, senti que estava acordado. Tentei ignorar aquilo tudo e me concentrar na minha rotina e fui me acalmando pelo caminho. Mas quando abri o portão de casa perdi a paciência.

Eu sou uma pessoa relativamente calma, entendo quando algum desencarnado precisa de ajuda, quer conversar, quer que eu ajude de alguma maneira etc, mas algo que sempre prezo é respeitar os espaços. Não posso anotar o nome de uma pessoa, onde os seus parentes moram e me comprometer a ir até eles em sonho em plena reunião de trabalho por exemplo. Logo, fiquei muito chateado de ver o mesmo tigre que havia deixado dentro da minha casa estar agora de pé me esperando na frente do portão:

“-Ah cara eu não acredito!” –Disse em voz alta.

Em parte me fez bem, pois na hora entendi que se tratava de um ser espiritual. Porém me aborrecia ele não entender ou não aceitar que eu estava no mundo físico e lá tinha minhas obrigações. Por ser um tigre e não me responder, achei que podia se tratar de um animal desencarnado que sei lá o porquê resolveu ficar atrás de mim, logo como se tratava de um ser irracional podia fazer com que se afastasse por instinto.

Então o “gênio” aqui, começou a fazer gestos, como se expulsasse um cachorro, ficou abrindo os braços e dizendo “vai embora!”. Mas nada adiantou.

“Tem um Tony me seguindo!” Pus o fone de ouvido e liguei o MP3 do meu celular, sai e notava que estava vindo atrás de mim, caminhei até o meu trabalho, e lá perto ele sumiu.

Falei com Mulher Gavião pelo MSN e contei o que havia acontecido. Ela não entendeu muito minha confusa explicação, mas disse que adorava tigres e que se Tony quisesse podia ir na casa dela sem problemas. Sai da net, fui fazer minhas coisas do trabalho. Nisso tive a impressão de ter visto o tigre em outra sala, justamente quando meu chefe passava por lá. De repente escuto um grito.

Corri na direção, mas quando cheguei só vi meu chefe reclamando que havia levado uma “lapada” na bunda. O pobre homem afirmava estupefato ter sido acertado por algo. Parece que meu Chefe sem saber havia pisado em sua cauda e o tigre revidou com um pequeno “tapa”. Desconversei e disse que ele devia estar estressado. Ele riu e esqueceu do assunto.

Mais tarde quando fui para casa dormir, senti novamente a respiração do tigre perto de mim. Por fim, sentei-me na cama e foquei nele.

Concentrei-me e abri minha terceira visão. Assim vi o caminho que eu havia feito e senti coisas ruins, como se algo fosse me acontecer. Mas o tigre “Tony” brilhava atrás de mim e as coisas ruins se afastaram. Ele me escoltara.

Ele já sabia do perigo iminente e me protegeu. Era um Grande Espírito protetor. Senti-me um perfeito idiota. Um idiota ingrato. Demorei a dormir. Tentei encontrar Tony no plano astral mas nada. Então no Plano Astral, fui até a Aldeia dos meus antepassados indígenas. Decidi conversar com meus irmãos índios e falei com meu pai sobre o ocorrido, disse que tentei conversar com o Tigre, mas não me respondia.

“- Os humanos falam, mas cada ser no cosmo tem linguagem própria meu filho. Não precisamos fazer magia nos cavalos para que eles falem, nós cuidamos deles e eles nos honram permitindo que sejam nossa montaria, um cuida do outro.”

- Mas os espíritos da coruja e raposa por exemplo, já falaram comigo.-Retruquei.

“- A Coruja é sábia a raposa é uma raposa, sagaz astuta, mas apenas mudaram os meios de falar com você. Não é porque não escuta palavras saírem da boca dele que não tenha tentando conversar. Na verdade pelo que me disse não era necessário conversa. Você ficou tão preocupado com a presença dele que não notou o mal que o cercava e foi repelido graças a ele. O ser humano é mais fácil de ser cuidado no subconsciente do que no consciente.”

Estava certo, eu só podia esperar. Acordei e acendi uma vela. Em oração agradeci pela ajuda e somente dias depois fui honrado novamente com sua presença.

Sonhei com uma ponte que parecia flutuar sob o universo. O cosmo profundo e escuro com uma estrada luminosa. Passei por ela e me vi aos poucos em uma estrada de chão. Via alguns monges arrumando a estrada. Eles usavam ferramentas simples, empurravam o excesso de terra para os lados da estrada e ajeitavam o mato ao redor.

Caminhei pela estrada, os que me viam juntavam as mãos e apontavam para mim naquela tradicional saudação budista, com um sorriso. Eu retribuía mas não parava nem perguntava nada a ninguém, sentia que devia ir andando. Segui andando e no meio do caminho apareceu um tigre magnífico. Havia um tigre magnífico no meio do caminho.

Ao ver-me virou-se completamente e me fitou. Aquele olhar poderoso e forte dos Grandes Espíritos. Quando estou perto deles que sinto o quão pequenos somos perto deles, me fazem sentir minúsculo mas profundamente honrado de estar em sua presença.

Apenas me ajoelhei e envergonhado pedi desculpas.

“-Não há o que se desculpar, levante-se e venha comigo.


Não foi uma voz. Foi simplesmente um pensamento na minha cabeça, mas acreditei se tratar dele, então o fiz. Agora era eu quem o seguia.

Caminhamos até estarmos de frente a um templo oriental. Não era um palácio, era uma construção simples mas muito bonita e bem cuidada. O muro branco, os portões de madeira que se abriam e lá havia muita vida. Crianças, idosos e adultos, todos muito sorridentes, e mesmo com túnicas simples estavam bem arrumados.

Todos estavam muito atarefados. Cada um fazia uma coisa, e ninguém parecia se preocupar com minha presença e a de um tigre solto caminhando em meio às pessoas. Na verdade muitos paravam e o saudavam juntando as mãos e apontando em sua direção. Um monge sexagenário veio em nossa direção. Fez os cumprimentos locais e em seguida se apresentou:

- “Seja bem-vindo, sou o mestre Mu, obrigado por nos honrar com sua presença!”

- A honra é minha – cumprimentando da forma oriental - disse meu nome e expliquei que embora não entendesse o motivo, estava muito feliz de estar lá.

- “Você é um viajante do cosmos, veio de muito longe. Não há motivo para não o convidarmos a entrar. Por favor, disse Mestre Mu.”

E fui levado a um salão muito bonito e grande. O lugar todo era simples mas de organização e cuidado impecável. Eu não via mais o Tigre, mas sentia que ele estava por perto. Mestre Mu sentou-se comigo em uma mesa e lá tomamos o chá que já estava nos esperando.

Conversamos sobre o Grande Tigre. Então ele me explicou que ele era um Grande Espírito do oriente, o espírito protetor daquela vila/mosteiro. Disse-me também que ele dificilmente sai de lá mas sempre volta. Não fala, mas é capaz de se comunicar através dos nossos pensamentos, e seu poder é de grande tamanho. Ele influencia a todos através de sua vibração de energias. Lá o Grande Tigre é chamado de “ O Iluminado”.

Expliquei que eu o chamava de Tony, e contei o motivo, mas assegurei que não era ofensa, apenas uma mania de falar, um resquício da minha infância que sobreviveu. Mestre Mu riu e disse que eu não devia me preocupar com isso.

“- Acho que “O Iluminado” iria ficar engraçado com um lenço vermelho amarrado no pescoço!”

- Não entendo o porquê de ele ter me ajudado, perguntei.

“- Não é preciso de explicação para ajudar o próximo” - respondeu Mestre Mu com um leve sorriso no rosto. Era verdade.

E fomos conhecer o resto do lugar. Tudo como sempre muito simples e muito bem cuidado. Havia um salão de artes marciais aonde todos pararam de treinar quando entramos. Nos saudaram e em seguida voltaram a treinar. Conversei com eles, contei que eu treinava também. Conversamos sobre esgrima e mostrei alguns golpes de esgrima ocidental. Explicaram-me que o treino de lá consistia no aperfeiçoamento do espírito.

Por fim ganhei um lindo par de espadas, que tive de pesquisar depois na internet. Eram espadas garra/orelha de tigre!!


Saímos e voltamos a um pátio cheio de crianças que corriam e brincavam. Meninos-monges acho, pois todos eram carecas e usavam túnicas. Em meio as crianças estava o Tony deitado e cheio de mongezinhos em cima dele. As crianças passavam a mão em sua cabeça e algumas estavam deitadas sobre ele, que não parecia se importar. Uma bola bateu no meu pé, algumas crianças vieram até mim.

“- Você é brasileiro?”

-Sim eu sou.

“- Então joga futebol com a gente?”

Era época de Copa do Mundo, todos estavam empolgados com futebol.

- Claro! – Deixei as espadas com Mestre Mu e fui jogar bola com eles.

Saí correndo com a bola, muitas crianças pulavam em mim, como se quisessem me derrubar.

“- Ele é um convidado crianças!” - Advertiu mestre Mun.

Com muita dificuldade consegui empurrar a bola e fazer um gol. Todos gritaram gol, até os meninos do time oposto, eles não se importavam, era apenas uma brincadeira, não havia rivalidade. Tony deu um rugido alto quando elas gritaram gol, mas as crianças não se alteraram. Enquanto voltava para meu time as crianças ficavam me segurando, pegavam na minha mão, meus braços e pedaços de roupa, olhei para Tony e brinquei com ele:

- Ah, gol você grita, né?

Depois Mestre Mu foi até eles e pediu que nos soltassem. Então saímos somente eu e o Tony. Ele foi andando até uma escada perto de uma formação rochosa, ela parecia enorme, mas com poucos passos já estávamos no topo, e lá em cima podíamos ver todo o monastério. Dali também se podia ver algumas montanhas, além de um horizonte muito bonito e o universo. Ficamos lá e conversamos bastante. Sobre o quê? Muita coisa, daria um livro creio eu.

Hoje vejo meu amigo ocasionalmente. E em mais de uma vez ele salvou minha vida. Por mais que não entenda, sou grato a ele pela ajuda, sua presença sempre me faz bem. Vez ou outra ele aparece em lugares que freqüento. Quando mudei de casa recentemente, ele ficou embaixo do prédio, e lá conversamos nos bancos que ficavam no piso térreo. Ocasionalmente as pessoas passavam por mim e me olhavam como se fosse louco de falar sozinho.

Mas não ligo mais.Quem tem um Grande Espírito do Oriente como amigo, não vai ligar para um vizinho que te acha maluco, vai?

Nenhum comentário:

Postar um comentário